Pavimentação eficiente: Etapas para estradas duráveis e seguras
28/04/2025 | ARTIGOS AUTORAIS

O transporte rodoviário é o principal meio logístico no Brasil, tanto para pessoas quanto para cargas. Por isso, construir um pavimento resistente exige atenção redobrada, especialmente na execução das camadas estruturais.
Pavimentos asfálticos (flexíveis) são formados por um revestimento superficial apoiado sobre as camadas de base, sub-base e, se necessário, reforço do subleito. Entender cada uma delas é essencial para garantir um bom desempenho estrutural.
O que é um pavimento?
É o conjunto de camadas projetadas para distribuir as cargas do tráfego até o solo natural, proporcionando segurança e conforto aos usuários, em qualquer condição climática. As estruturas podem ser flexíveis ou rígidas, mas todas seguem um princípio comum: resistir à ação contínua dos veículos com durabilidade e segurança.
Camadas do pavimento
Subleito
É o solo natural que serve como fundação do pavimento. Sua função é absorver os esforços transmitidos pelas camadas superiores. Pode ser compactado no próprio local (em cortes) ou transportado (em aterros).
Características exigidas (DER/SP – 2006):
- ISC (Índice de Suporte Califórnia) ≥ 2%;
- Expansão máxima: 2%;
- Compactação mínima: 100% do Proctor Normal ou Intermediário (para solos finos ou granulares).
Casos especiais:
- Subleito existente: escarificar, umedecer e compactar 20 cm abaixo do greide;
- ISC < 2%: substituição do solo com espessura definida por estudo geotécnico;
- Expansão > 2%: realizar sobrecarga experimental até atingir expansão ≤ 2%.
Se a estrutura projetada não gerar pressão suficiente sobre o subleito, também será necessário substituir parte do solo.
Sub-base
Camada opcional entre o subleito (ou reforço) e a base. É usada quando não é viável construir a base diretamente sobre o subleito, por razões técnicas ou econômicas.
Requisitos mínimos:
- ISC ≥ 30%;
- Expansão ≤ 1%.
Materiais utilizados: solos, misturas de solos, estabilizados quimicamente ou materiais pétreos.
Base
É a principal camada de sustentação do pavimento, localizada logo abaixo do revestimento. Sua função é distribuir as cargas de tráfego e preservar as camadas inferiores.
Requisitos técnicos:
- ISC ≥ 60%;
- Expansão ≤ 1%.
A qualidade da base é a mais determinante para a durabilidade da via.
Revestimento (ou Capa de rolamento)
É a camada visível do pavimento, diretamente exposta ao tráfego. Deve oferecer conforto, segurança, aderência e resistência ao desgaste, além de possuir baixa permeabilidade para evitar infiltrações.
Drenagem: essencial para a durabilidade
A drenagem eficiente protege o pavimento contra a ação da água, que pode comprometer a resistência de todas as camadas.
Tipos de drenagem:
- Superficial: desvia água das pistas — inclui sarjetas, valetas, bueiros e caixas coletoras.
- Subterrânea: evita o acúmulo de água no subsolo — inclui drenos, camadas drenantes etc. Deve manter o lençol freático a 1,5–2 m abaixo do subleito.
Dispositivos de Drenagem Mais Utilizados
1.1. Sarrafo ou Meio-fio com Sarjeta
- Função: Conduzir a água superficial da pista para os dispositivos de coleta.
- Instalação: Concreto pré-moldado ou moldado in loco.
- Inclinação da pista: mínimo de 3% transversal para garantir escoamento.
1.2. Boca de Lobo (Bueiros de Sarjeta)
- Função: Coletar águas pluviais diretamente da sarjeta.
- Espaçamento: Idealmente a cada 40–60 m, ou antes de depressões e esquinas.
- Exigência: Deve suportar vazão de projeto para chuvas intensas (período de retorno de 2 a 10 anos, conforme diretrizes locais).
1.3. Poço de Visita (PV)
- Função: Inspeção e manutenção da rede de drenagem.
- Localização: Em mudanças de direção, mudanças de declividade ou a cada 50 a 70 m.
1.4. Tubulação de Drenagem Pluvial
- Material: PVC, PEAD ou tubo de concreto (DN ≥ 300 mm).
- Critério de dimensionamento:
- Área de contribuição: m² de cada bacia de captação.
- Coeficiente de runoff (C): depende da impermeabilização (geralmente 0,70 a 0,90 para áreas urbanizadas).
- Declividade e rugosidade do solo: interferem na velocidade e na vazão.
- Fórmulas: racional (Q = C.I.A), manning, ou modelos mais avançados.
1.5. Valetas ou Canaletas (em declives acentuados)
- Função: Conduzir água superficial lateralmente em vias com forte aclive.
- Uso comum: Ruas com declividade ≥ 8%.
1.6. Caixas de Passagem / Dissipadores de Energia
- Função: Reduzir velocidade da água e evitar erosão no ponto de descarga.
- Importante: dimensionar para evitar socavamento no ponto de lançamento em áreas verdes ou corpos de água.
1.7. Cunha de Recalque ou Cunha de Inclinação
- Função: Complementar o escoamento superficial nas extremidades da via (frequentemente negligenciado).
- Instalação: nas extremidades da faixa de rolamento e em rotatórias.
Recomendações Complementares para TSD
- Evitar águas estagnadas sobre a pista – o TSD se deteriora rapidamente com acúmulo de umidade.
- Implementar faixas de absorção em áreas verdes ou pavimentos permeáveis em trechos com grande área impermeável.
- Garantir que os lotes não escoem águas para a pista, usando calhas internas ou faixas de contenção.
Pavimentação é muito mais do que o apelidado asfalto pela população, quando se referem ao revestimento asfáltico. Uma obra sem projeto coerente com a realidade local e sem a execução bem feita de toda a estrutura informada neste artigo, estará fadada a gerar manutenções corretivas recorrentes para o resto da sua vida útil. Infelizmente este é um cenário que vemos todos os dias em nosso país. Para prevenir estes problemas, sempre contrate profissionais credenciados e capacitados. Qualquer obra precisa contar com bons projetos, bons materiais e boa execução.